Jazz na Caixa

Associação Teatro Construção de Joane/
O Eixo do Jazz - Associação Luso-Galaica para a Promoção do Jazz

2019

Com apenas três anos de actividade o Jazz na Caixa organizado pelo Eixo do Jazz consolida a sua personalidade sobre pontes: «eixos». Eixos entre o Jazz e a música clássica e a pop, eixos entre Portugal e a Galiza, eixos entre os músicos e o público. Eixos que se estabelecem a partir da proximidade, pontes sobre géneros, entre o emissor e o receptor e entre irmãos que se afastaram.  

A programação do Jazz na Caixa 2019 constou de três concertos piano solo de dois músicos nacionais, Mário Laginha e João Paulo Esteves da Silva e o galego Abe Rábade na primeira semana, e Hugo Correia e Manuel Maio, dois músicos oriundos da clássica em contrabaixo, violoncelo e violino, e Bruno Santos e Rita Redshoes, um projecto a namorar a pop, na segunda. Os concertos decorreram na caixa do palco do Teatro Construção, em Joane (Vila Nova de Famalicão), embora a organização tenha decidido abrir as três primeiras filas da plateia devido à procura de bilhetes. A proximidade entre os músicos e o público, e a conversa que é estimulada no final dos concertos, instigam essa cumplicidade incomum.

A programação completou-se com dois 'workshops', um «introdução ao jazz para jovens estudantes de música», e um outro, «Jazz com Arco», onde jovens músicos de conservatório «experimentam a improvisação do jazz moderno». Mas outras actividades do Eixo do Jazz incluem o Jazz na Aldeia, um «Circuito de Residências Artísticas» em áreas rurais, que onde jovens músicos experimentam e apresentam a um público pouco habituado a ouvir Jazz, e ainda alguns concertos em Vigo que em 2019 ainda irão decorrer em Junho.

Assisti aos dois primeiros concertos do Jazz na Caixa, de Abe Rábade e Mário Laginha. Se a forma de piano solo não é a minha preferida, em grande medida porque nela está ausente um dos que considero ser um axioma primeiro do Jazz que é a relação (e conflito) indivíduo – colectivo, ela oferece ao músico a possibilidade de se espraiar por caminhos por que por norma não percorre, e nesse sentido explorando outras possibilidades, ao mesmo que se expõe, desnuda-se, perante o auditório.

Foi um pouco o que foi possível observar nos dois concertos. A abrir, Abe Rábade , muito técnico (Rábade é professor de piano e composição na ESMAE – Porto) e lírico, revelando uma apetência pela música popular que esteve patente na escolha do repertório e mesmo nas improvisações. Este caminho, esta personalidade construída na procura de uma identidade nacional (galega), é muito interessante e é comum a uma boa parte do Jazz galego, e Rábade é um dos seus mais estimulantes percursores.
A conversa com o músico permitiu desvendar também o seu percurso musical e as suas opções estéticas.

Do outro lado, no dia seguinte, Mário Laginha , figura incontornável do Jazz nacional, pianista luminoso, um escritor de canções e, diria, cantor que se exprime pelas teclas, que percorreu em uma hora uma parte do seu repertório, entre alguns temas emblemáticos e improvisações. Laginha é único na fusão de um pianismo culto que combina a herança clássica (e que afasta a tradição negra, stride) com a resplandescência de Keith Jarrett, num caldeirão - síntese de referências que inclui a música popular portuguesa, África e o Brasil.

Duas actuações inspiradas, dois concertos muito bonitos, dois momentos de intimismo e deleite, que foram oferecidos à «plateia» do Teatro Construção.

Ambos os concertos foram seguidos de jam sessions alimentadas por jovens estudantes da ESMAE.

Seguem-se em 15 de Junho, em Vigo, os BjazzChoir, Shaduf e Quarteto do Eixo.

JazzLogical esteve no Jazz na Caixa a convite do festival.